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Psicologia no SUAS

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NÃO DÁ PARA ACREDITAR NO SUAS


SE:

Achar que o SUAS é que vai acabar com a pobreza, que o SUAS vai acabar com as desigualdades sociais (raciais), se você achar que o SUAS é um meio complementar à outras políticas que não fazem o que elas deveriam fazer. Se achar que o SUAS é política pra ações que são de políticas de esporte cultura e lazer.

Se não endereça ao SUAS o que ele, de fato, encomendou. Estão enviando encomendas para o endereço errado. Acontece que certos carteiros/as do SUAS, de um lado, acreditam que deve atuar banhados/as pela bruma da bondade, do “trabalhar por amor e pela causa da pobreza, por outro, pelas lógicas de destrato com a coisa pública, mantendo sempre uma caixa de correios aberta para impressionar os vizinhos que.

Se achar que o SUAS é o único espaço socio-ocupacional público precarizado e marcado por inúmeras disputas de poder. Vocês já pensaram nas condições de trabalho da educação e da saúde? Só para citar essas duas. O ataque não deve ser ao SUAS, deve ser às relações sociais estranhadas que produzem esses tipos de precarização e adversidades.

Se achar que o SUAS tem profissionais de nível superior cuja função é interceptar o acesso a benefícios e programas de supostos mentirosos. As farsas para ingressar em respostas materiais a desproteções sociais é problema de um estado cínico que está fazendo malabarismo para servir aos tubarões. Então, a bestagem em continuar fazendo “parecer social” ou inquirições moralistas, averiguações como meio para pessoas terem acesso a um mísero benefício impulsiona o próprio sofrimento – e pior, você nem sabe disso e ainda abraça essa materialidade do fazer “técnico” como a única maneira de justificar tua importância diante de quem pertenceria a outra categoria de gente.   

A provisão não deve depender de decisão individual ou de equipe para que determinada pessoa acesse ou não um benefício ou programa – a exemplo do Programa Bolsa Família que tem suas regras consensuadas. É de se esperar que o BE, que quando colocado como oferta, já deve haver uma decisão institucional para o seu cumprimento. Portanto, se a gestão delega ações de obstrução como cortina com função de deixar passar só uma penumbra – só alguns raios de luz, o problema não é do SUAS.

AGORA, DÁ PARA ACREDITAR NO SUAS

SE:

Se você acredita que as contradições entre capital e trabalho geram violências cotidianas que impactam vidas velhas e vidas que nascem agora, o SUAS é uma via de propositura de espaços possíveis de convivência e de relações para enfrentar processos que insistem em desumanizar pessoas e em colocá-las num limbo porque não geram valor.

E isso é pouco? Para quem está construindo a revolução de amanhã pode ser. Mas, vale destacar que muitos que criticam o SUAS como sendo meio apaziguador das massas não estão construindo a revolução – só estão encastelados na academia.

O SUAS é necessário num país que na pandemia foi obrigada a ver o tamanho da existência da fome – situação que nunca foi embora, mesmo que estivesse fora do mapa. Estar fora do mapa não significa que a fome não atinja um número inaceitável de pessoas. A fome não é diretamente respondida pelo SUAS, mas não podemos esquecer que é um problema transversal, assim, as consequências por viver nesta situação também é da assistência social.

O SUAS não pode propor acabar com a violência, mas a proteção social é um meio de amparo e minimização das consequências do fenômeno e seus desdobramentos.

O SUAS é necessário porque a mobilidade urbana não é para todos/as/es – algumas gentes, sobretudo as pessoas negras, são impedidas de acessar as cidades na sua integridade. Daí entra nossa capacidade de trabalhar a convivência social e comunitária. O pertencimento e a tomada da circulação que lhes é de direito.

O SUAS é necessário porque há pessoas, famílias que não têm ou não terão a querência de cuidar de suas crianças, adolescentes ou idosos e por isso, a acolhida é resposta contínua pelo estado, assim como a construção de novas formas de acolher e cuidar.

Agora, você pode ter desejos e vontades que não têm a ver com as especificidades do SUAS. Não há nenhum mal nisso, agora, tais especificidades só não deveriam ser confundidas com aquilo que não é o SUAS.

Texto inspirado na pergunta recebida no @psicologianosuas (segue lá que todo domingo é dia de caixinha). Obrigada à colega do SUAS pela pergunta e por me mobilizar a escrever mais que um comentário.

Uma resposta para “NÃO DÁ PARA ACREDITAR NO SUAS”.

  1. Avatar de Dinalva Maria da Silva
    Dinalva Maria da Silva

    Parabéns Rozana, que delícia de texto…

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Comentários