Saúde Mental, Gênero e Dispositivos: Cultura e Processos de Subjetivação – LIVRO

Apresentação de mais um livro da Editora Appris e este vem junto com uma ótima notícia que é a possibilidade de você ganhar um exemplar desta obra pelo sorteio que está acontecendo através do perfil do blog pelo Instagram, no @psicologianosuas. Veja lá como por participar! Apresentação: O presente livro é fruto de 20 anos de experiência na clínica psicoterápica e 13 em pesquisas na área de saúde mental, sob a perspectiva de gênero, por parte da autora. Valeska Zanello, professora adjunta do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de Brasília, tem se dedicado a estudar e compreender os processos de subjetivação que se configuraram historicamente em nossa cultura, no Brasil, e como, atualmente, homens e mulheres se subjetivam, sofrem e se expressam de formas diferentes. Tenho dito para vocês que este ano, para mim, está sendo de aprofundamento em leituras e estudos e por isso tenho publicado poucos textos por aqui e assim, vocês terem mais posts com apresentação de livros é consequência do que está sendo o meu ano e espero que vocês entendam porque acredito estar mantendo o propósito deste espaço que é ser também meu cantinho de organização de materiais e processo de formação e atualização profissional. Trazer um livro que não discute diretamente Assistência Social também é consequência de onde estou atuando que é na saúde mental (vou fazer um post II “Por onde anda Rozana Fonseca” no início do próximo ano que vem 😉 contando sobre isso). Mas trazer este tema é muito importante porque acredito que para nos tornamos profissionais com mais habilidades e competências devemos conseguir transitar e dialogar com conceitos que estão diretamente e/ou transversalmente atrelados a nossa área de atuação. Considero válido ressaltar que o tema deste livro é sim para nós do SUAS, a abordagem do livro que não é referente a ele, pois a autora é pesquisadora da psicologia clínica – saúde mental, mas pela trajetória da autora e temas estudados acho super válido para nós que atuamos na Assistência Social porque precisamos propor discussões e atividades para trabalhar genêro, assim como precisamos compreender os processos de subjetivação e os dispositos que norteiam o existir das mulheres. Para grupos com mulheres é uma indicação preciosa! Alô PAIF, Alô PAEFI! 🙂 – para grupos com homens também, claro! A linguagem é muito simples e discute cenas do cotidiano o que eu acho muito bacana para atingir o maior número de leitoras/es e de profissionais possíveis. Mas é bom saber que ter uma linguagem que traz o cotidiano para a discussão não dimunui o rigor teórico e eu sinceramente achei um livro dificil, mas acredito que é porque eu estou me aprofundando agora nos estudos sobre gênero (desde a faculdade eu não gostava de estudar este conceito 🙁 ) então não me vejo sendo especialista neste assunto, mas é imprescindível que eu entenda o satisfatório para atuar na Assistência social e em outros campos de atuação. De bônus (para deixar mais que justificado o porque de trazer este livro para este espaço!) deixo aqui dois vídeos onde a autora fala sobre violência contra mulher e machismo: Por fim, só posso dizer que super vale a pena a leitura e que precisamos avançar na qualidade da oferta de grupos no SUAS e sem dúvidas só vamos conseguir provocar transformações sociais significativas quando rompermos com oficinas manuais e discussões rasas para trazer grupos e ações pautadas em teorias atuais e em pesquisas que versam sobre o nosso contexto, sem subjugar a capacidade das mulheres ou homens de compreenderem os dispositivos que toda/os nós reproduzimos acrítica e cotidianamente. VERSÃO DIGITAL R$ 34,00 VERSÃO IMPRESSA R$ 76,00 no site da editora, mas é bom você saber que também pode comprar em outras lojas que vendem pela internet! Boa leitura, ótimos estudos! Você pode concorrer a um exemplar deste livro participando do sorteio lá no Instagram @psicologianosuas – período (24/11/19 a 30/11/2019) às 12h)

A violência nossa de cada dia

Por Lívia de Paula* Como técnica de referência de um CREAS, é algo recorrente em minha prática receber convites e solicitações para participar como facilitadora em rodas de conversa e palestras sobre o tema violência, na maioria das vezes sobre violência contra crianças e adolescentes, meu foco de atuação dentro do serviço. Já estive nos espaços, mais diversos, como escolas, falando para crianças e adolescentes; escolas, falando para pais e responsáveis; universidade, falando para alunos; teatro, falando para pessoas da comunidade; evento promovido por igreja evangélica, falando para fiéis; entre outros. Considero uma imensa responsabilidade explanar sobre este tema e uma das preocupações que tenho é tentar sair do lugar comum que muitas vezes nos captura enquanto trabalhadores da área: falar sobre prevenção, sobre os tipos de violência e sobre as formas de denúncia. Geralmente é este o nosso script, tanto quando falamos sobre o tema, quanto quando somos convidados a ouvir outros profissionais em capacitações que nos são oferecidas. É claro que este script tem grande importância, pois é ele que nos orienta em nosso trabalho cotidiano. Porém, penso ser interessante ir além. Ir além, a meu ver, é antes de falar do que já está posto, promover reflexões. Antes de dizer o número do Disque 100 (Disque Direitos Humanos da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República)[i], seria bacana conhecer o que as pessoas pensam sobre violência. Qual é o conceito delas sobre o assunto? Qual é o seu conceito, caro colega de SUAS? Já se perguntou? É com esse questionamento que geralmente inicio minhas apresentações. Perguntando a mim mesma e aos meus ouvintes o que é violência. E as descobertas vão inúmeras, muitas vezes mudando até o rumo da prosa. Observo que, em grande parte das discussões, a violência é vista como algo que não nos pertence. Violência é coisa de noticiário policial, num reino tão, tão distante… Quantas vezes me perguntam: mas existe violência sexual em Itaúna? E essa forma de olhar a violência não é exclusividade daqueles com os quais nos relacionamos (amigos, conhecidos, parentes, usuários). Essa é a minha forma de olhar a violência. Essa, provavelmente, é a sua forma de olhar a violência. Mas então, o que seria violência? A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2002) define a violência como: o uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade que, resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação.[ii] Pensando a partir deste conceito da OMS, torna-se simples observar como a violência faz parte do cotidiano de cada um de nós. Quem nunca se sentiu ameaçado ou chantageado? Quem nunca ficou irritado no trânsito e ofendeu outro motorista? Isso sem falar nas nossas relações familiares, algumas sustentadas pelos conflitos e violências psicológicas várias. A violência nossa de cada dia. Assimilada e Banalizada. Aquela que não dá ibope pros “Datenas”, afinal todo mundo perdoa porque: “eu estava nervoso”, “aquele motorista é um lerdo”, “foi só uma brincadeirinha”. A psicanalista Maria Laurinda Ribeiro de Souza, em seu artigo “A banalização da violência: efeitos sobre o psiquismo”[iii], nos traz contribuições importantes sobre este tema: Outra forma de se olhar para a questão da violência é identificar, no nosso cotidiano mais próximo, como ela se manifesta nos pequenos gestos. Por serem tão do dia-a-dia e por parecerem tão insignificantes frente à magnitude das manchetes, não se dá tanta atenção. Penso, por exemplo, nas discriminações, exclusões e desrespeitos mais comezinhos – transformar as empregadas em escravas disfarçadas deixando, por exemplo, as roupas jogadas, os jornais espalhados, para que elas os guardem. […] Violência do casal que não suporta as mínimas diferenças e não consegue negociar ou ao menos escutar as divergências. Violência com os filhos que são deixados ao relento das ruas ou, em situações econômicas mais favoráveis, aos acasos da televisão moderna – os jogos eletrônicos e computadores. […] O lugar para os afetos, as amizades, o respeito mútuo, a confiança, está cada vez mais restrito. Saindo de casa: violência no descuido com as calçadas; inexistência de rampas, de guias rebaixadas, de respeito mínimo às normas de convivência, cidadania, zoneamento urbano, empregos informais sem direitos trabalhistas, sem previsões de acidentes e de amparo à velhice… Também aqui a lista seria imensa. Apesar de tantos exemplos fáceis de serem identificados e que produziriam realmente uma lista imensa, acredito que promover reflexões mais amplas sobre o conceito de violência configura-se como um desafio em nosso cotidiano. Alguns destes exemplos ainda trazem espanto e geram muitas polêmicas quando abordados. Em certa ocasião, na qual estava como facilitadora de uma roda de conversa, falávamos sobre as palmadas, os famosos tapinhas para educar. Fui questionada por uma colega psicóloga: “mas você acha que isto também é violência?” Não sei se é o caso desta colega, mas conheço vários profissionais do SUAS que acreditam e defendem discursos como “mulher apanha porque gosta”, “pedófilo precisa é ser castrado”, “criança só vira gente se apanhar”. É por essas e outras que o desafio está posto. E é por tudo isso que defendo que continuemos a falar de violência. Que não recuemos quando convidados a falar sobre violência. Porém é urgente que ampliemos nosso olhar. Que busquemos a violência naquele reino distante. É preciso sim que a nossa fala contemple as situações que chocam: a negligência grave, as violências física, sexual e fatal. Mas, mais necessário ainda é que a nossa fala discurse principalmente sobre a violência mais “perigosa”: aquela à qual nos acostumamos, aquela que se veste de hábito. Que essa reflexão possa começar conosco e se estender aos espaços nos quais somos convidados a estar: os equipamentos do SUAS, as ruas, as praças, as escolas, a comunidade.  Só assim será possível contribuirmos para a quebra dos ciclos de violação, uma das tarefas mais importantes da Política de Assistência Social. [i] Para conhecer o serviço, acesse AQUI [ii] Acesse o Relatório Mundial sobre Violência e Saúde AQUI [iii] Artigo