Um trabalho possível com as famílias do PAIF

Por que meu projeto virou tema de minha Monografia no curso de Especialização em Gestão Social? Aquisições Sociais dos Usuários do Suas através de um Projeto de Reciclagem no CRAS de Eunápolis/Ba – Quem acompanha o blog , provavelmente já passou por algum link, comentário ou post sobre o Projeto Ret: Recolher e Transformar que desenvolvi com os usuários do PAIF no Cras onde atuo.  Muitos leitores me pedem o envio do Projeto, eu sempre encaminho ou deixo o link para acesso, mas confesso que era sempre preocupante, porque o projeto enviado era uma versão de 2010 e sem nenhuma informação do andamento e desenvolvimento de fato do projeto. Só não ficava mais preocupada porque junto encaminhava uma apresentação ppt com etapas e dados atualizados do Projeto e resumo do trabalho que apresentei  no VII Congresso Norte e Nordeste de Psicologia em Salvador, 2011 na modalidade Experiência em Debate. Pois bem, o projeto virou tema de minha monografia do curso de Especialização em Gestão Social e quero deixá-la aqui porque sei que está bem mais completa e atualizada e ajudará vocês a entenderem os objetivos e porque o considero uma ferramenta de trabalho com grupo socioeducativo pelo PAIF. Mas antes, quero proferir algumas palavras e fazer uma nota sobre a implantação do Projeto. Tenho amor, dedicação por este projeto e quero dizer porque. Tudo começou por um questionamento e necessidade individual. Que destino dar para os resíduos sólidos que minha família produz? a cidade tem apenas uns 15% de saneamento básico, quem dirá coleta seletiva! o que fazer? passei a separar o resíduo sólido reciclável do orgânico, já é um passo, mas não estava bom. Diante de tantas besteiras ditas a respeito de preservação ambiental – é ideia de top model sobre xixi no banho, polêmicas e inverdades quanto a disponibilização de sacolas plásticas pelos supermercados, sensacionalismo e mídia responsabilizando indevidamente a população por desastres naturais, entre outras falácias –  resolvi tomar um atitude. Ao invés de tentar fazer as “boas maneiras” divulgadas pelos ambientalistas extremistas e jornalistas, a julgar por sua maioria, desinformados, os quais divulgam mentiras e atitudes utópicas quanto a preservação do Meio Ambiente, decidi agir com o algo concreto e comum a todos, inclusive aos ambientalistas. A destinação adequada do lixo que eu e meu marido produziámos passou a ser o problema. Qual solução? o que fazer? meu marido que é Biólogo, no início, antes do projeto ir para o papel, alertou que o mesmo seria de difícil execução, e se tornou o grande colaborar técnico do Projeto e responsável pela parceria para o transporte do material. SOLUÇÃO Se meu trabalho consiste em potencialização da comunidade, favorecer e promover aquisições sociais da famílias, trabalhar com conceito de cidadania, direitos civis e sociais, porque não desdobrá-los e inserir  Meio Ambiente nessa prática? inciei com uma reunião com todos os participantes do PAIF, os quais já estavam inseridos em grupos de convivência, oficinas de artesanato e grupos socioeducativos, onde divulguei a ideia e os objetivos dos projeto. Pronto, ali nascia o Projeto RET: Recolher e Transformar ( o nome do Projeto foi escolhido pelo estagiário de Seviço Social Edriano). Iniciamos com 22 participantes. Muitos foram os desafios, desde a logística de armazenamento e transporte dos materiais quanto a dificuldade de aceitação do projeto por parte de colegas de trabalho – hoje já conto com o apoio sistemático da equipe onde atuo. Armazenamento: o Cras tem um salão muito amplo, e como foi previsto que o projeto receberia em média 40kg/mês entendemos, eu e a coordenadora do Cras na época, Zilda Seixas, a qual apoiou e acreditou muito no projeto, que o Cras poderia receber os materiais. Não deu certo, já no primeiro mês recebemos mais de 100kg. Onde armazenar isso tudo se o transporte seria realizado mensalmente? a ideia foi cobrir uma lateral da unidade para deixar o material, mas ao solicitar o material, fui questionada quanto: Que projeto é esse? o que tem esse tema haver com Cras? e com a psicologia? Fui orientada a suspender o projeto até que fosse revisto e/ou providenciado um outro local. Assim prossegui, convoquei os participantes para uma reunião e expus o problema. Eis que uma participante disponibilizou uma área coberta em sua casa para continuarmos como  o Projeto. Fiquei encantada e surpresa! como assim? em tão pouco tempo os integrantes já compreenderam a importância do que estávamos fazendo? foi muito positivo observar isso, realmente algo poderia ser mudado com a ajuda daquele grupo. Problemas como o de transporte foi resolvido com a parceria da Empresa Engecram, a qual fazia a transporte voluntariamente. Mas outras questões como falta de envolvimento da equipe, o que já era esperado, porque sabemos que a formação acadêmica não contempla e não problematiza a relação do homem com o Meio Ambiente – é tema dos cursos específicos, ainda não foram superados. Como um profissional vai desenvolver cidadania e ter condições de promover autonomia e autogestão se ele mesmo é alheio a isso? Assim, nossa cidadania se dá pelas metades, quem ousou dizer que meio ambiente é flora, fauna e água? Meio ambiente é onde estamos, é nossa casa, nossa rua, nossa cidade, então meio ambiente tem tudo haver como os problemas sociais (fome, pobreza, habitação…) para os quais somos convocados, enquanto executores de uma política pública, a estudá-los e minimizá-los. Acrescento ainda que a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos  interfere diretamente nas famílias público alvo da proteção social. Então, precisamos todos saber sobre esta política, como cidadãos e como técncos da PNAS. Fiquei bem contente quando assisti a uma entrevista da Tereza Campello na Globo News durante a RIO+20, onde ela falou da união das agendas social e ambiental, e da proposta do Piso de Proteção Socioambiental. Olha que interessante: “Desafio atual é não separar mais o debate ambiental do debate social, é atrasado agente pensar só meio ambiente, ou só pobreza, só tem um jeito de construir um mundo melhor que é pensando – como salvar o planeta, como construir formas sustentáveis

O Retrato da Violência Eunapolitana e Cidades vizinhas

Faço uso desse espaço para reproduzir um texto – Publicado no jornal  impresso da região Eunápolis/Porto Seguro, Folha Popular maio de 2010 – que elaborei acerca da banalização da violência pelos sites de notícias em Eunápolis e cidades vizinhas.  Discuto sobre a relação que a mídia local e os cidadãos eunapolitanos estabelecem com as diferentes formas de violência. Sugiro ainda, que os sites que publicam os corpos desfacelados sem qualquer polimento estão em desacordo com os Direitos Humanos e contrariam os direitos das famílias expostas. Assim, estão reproduzindo a violência e produzindo uma outra, não menos grave: a violência simbólica. O texto está na íntegra.  Leia e deixe sua opinião! O Retrato da Violência Eunapolitana e Cidades vizinhas A violência urbana que acomete Eunápolis está tomando uma proporção desenfreada, a qual pode ter várias leituras. Sugiro que a mesma é proveniente de diversos fatores, como falta de segurança pública, fragilidade econômica, proliferação das drogas, vulnerabilidade social, e às características socio-históricas e culturais advindas da formação desta cidade que já foi o maior povoado do mundo. Este povoado foi administrado por dois municípios até sua emancipação, e sua formação se deu através da vinda de cidadãos originários de diferentes regiões da Bahia e de outros Estados, os quais chegavam para trabalhar sonhando com a expectativa instaurada em torno da fama do maior povoado do mundo. A junção destes fatores culminou com a fragmentação da identidade social do cidadão eunapolitano. Após esse breve apontamento histórico, devo retomar à principal questão que venho discutir: a banalização da violência urbana, especificamente em Eunápolis/BA  Há meses assisto atônita às manifestações da população eunapolitana frente à violência urbana que acomete Eunápolis e cidades circunvizinhas e que é estampada nas páginas de notícias via internet. Enquanto cidadã e psicóloga me sinto no mínimo intrigada diante de tamanha popularização da divulgação das imagens pelos sites de notícias, dos indivíduos mortos através de diferentes formas, como acidentes, assassinatos, latrocínios, entre outras. Assim, meu objetivo é provocar uma reflexão acerca da veiculação dessas imagens pelos sites de notícias online. A que e a quem servem essas publicações é o que devemos questionar. As fotografias, bem como suas publicações não poupam ninguém e não pedem passagem. Registram e mostram tudo, como se isso fosse extirpar a violência. Mas há um paradoxo, pois não se elimina uma violência com outra, pelo contrário, propaga-a nas mais diversas e tênues facetas. As referidas publicações têm audiência garantida, e muitas vezes é a própria comunidade atormentada pela dor da perda e pelos rumos que a violência dita na vida das pessoas – crianças, adolescentes, adultos ou idosos – que clicam em busca da imagem dos corpos mortificados. Ver a foto 3×4 de um indivíduo que perdeu a vida, não satisfaz a curiosidade mórbida e sádica, ou melhor, não condiz com a realidade monstruosa e desumana vivenciada pelos cidadãos, que é nesse caso representada pelo desfacelamento do corpo alheio. Este que passa a ser objeto de espetacularizaração da violência. A sociedade que é acometida pela violência, se torna espectadora assídua da representação da violência disponibilizada pelos sites de notícias.  Assim a reprodução desenfreada, sem o mínimo de polimento por parte de quem produz as imagens e por quem as publica e mais o consumo das mesmas pela sociedade em geral culminam com a banalização da violência e de sua conseqüência mais grave, a morte. A estranha e questionável relação da sociedade com as diversas formas de violência são conhecidas desde a antiguidade, obviamente com as características histórias e culturais de cada época, porém, mesmo diante do avanço dos direitos humanos que buscam garantir os mínimos da dignidade humana a sociedade ainda perpetua uma relação antagônica com a violência e com um agravante: a sua banalização. Se por um lado a sociedade clama por paz e justiça – mesmo que com seus rubores discursos, por outro, ela perdura a violência, neste caso através da publicação contestável e desrespeitosa das imagens dos corpos mortos – o que contribui ainda com a “coisificação” do indivíduo, e não isenta dessa perduração, está a sociedade que consome as tais imagens sem tomar consciência de sua atitude violenta e mórbida. A violência está atrelada à convivência social – é impossível pensar uma sociedade sem violência, o que mudou são as aparições das mais diversas e cruéis manifestações da mesma. Manifestação esta que é influenciada pelos diversos fatores, como socioeconômicos, históricos, ambientais e culturais de cada época. É inadmissível que junto com a perda violenta de um membro familiar, se vá o mínimo de direito dessa família, pois ela se quer é consultada sobre a autorização ou não sobre as publicações das imagens. Como conseqüência dessa exposição, a família passa a ser estigmatizada e identificada pela atrocidade de uma violência que se alastra entre as facetas enganadoras do capitalismo. Os canais de notícias sejam eles, impressos ou via internet, são um exemplo destas facetas, pois estão muito mais ligados ao produto do que a função de democratizar e garantir o direito à informação de qualidade á todos os cidadãos. Constata-se uma reprodução da violência para vender mais violência, nesse caso, a violência simbólica, que reproduzida através das publicações das imagens mortificadas é tão grave quanto, pois destrói o resto da dignidade da família e de seus direitos, o que contribui com intoleráveis e danosas exclusões sociais, intensificando assim, o sofrimento ético-político das famílias expostas. Assim, cabe aos cidadãos em geral, repensar a sua relação com a violência: até quando farão do desfacelamento das famílias vítimas de violências, um espetáculo. Aos meios de comunicação, além de reverem seus princípios e valores éticos devem refletir que a publicação dessas imagens que denunciam as marcas da violência, ao invés de informar está formando cidadãos alienados pela sua própria história.   Rozana Maria da Fonseca Psicóloga rozanafonsecapsi@hotmail.com @rozanafonseca