Diálogos e perspectivas possíveis da Assistência Social com/e da Terapia Ocupacional


Hoje é dia de receber Aline Morais, que será colaboradora do Blog para abordar a atuação do profissional com formação em Terapia Ocupacional no SUAS. Seja muito bem-vinda, Aline. Estou muito feliz em ampliar esse espaço com suas reflexões e proposições! Este espaço também é seu e de todas/os Terapeutas Ocupacionais ❤

Aline Morais

Por Aline Morais *

Estreio esse espaço privilegiado de “compartilhares” com uma grande responsabilidade: representar os terapeutas ocupacionais do SUAS. Represento porque atualmente trabalho no CRAS de Patrocínio Paulista, além disso, tenho me dedicado, desde o término da graduação ao Campo Social da Terapia Ocupacional, seja por meio da atuação prática (nas medidas socioeducativas), seja na academia (como docente, supervisora de estágio e mestranda). Sendo assim, espero dialogar, refletir, provocar questões pertinentes à Assistência Social, como um todo, atreladas às especificidades da Terapia Ocupacional.

Contudo, além de mim, sei que há colegas terapeutas ocupacionais trabalhando no SUAS, com os quais espero contar para compor este diálogo que iniciamos neste importante espaço, concedido pela Rozana Fonseca (obrigada!).

Imagino que muitos colegas ainda não conheçam as possibilidades de nossa atuação na Assistência Social. Há aqueles que pensam que somos uma profissão da saúde ou recente, em ascendência. O primeiro curso de Terapia Ocupacional surge no Brasil em meados da década de 1950, e a sua atuação no campo social, nos anos 70, quando começam a atuar em presídios, FEBEMs e programas comunitários. Ou seja, estamos há um tempo significativo na construção de um saber específico, sobre o qual pretendo contar a vocês durante nossas postagens.

Pretendo me debruçar sobre as especificidades da profissão, contudo, além de TO, também sou profissional do SUAS e, com certeza, teremos inquietações similares, advindas da Assistência Social como um todo. Dentre elas, as discussões que inferem que o objeto de intervenção das outras áreas (como a da saúde) é mais claro, mais concreto, do que o da Assistência Social. Quantas vezes nos deparamos com essa discussão?

Para nosso conforto, o novo documento do MDS, sobre o Trabalho Social com Famílias[1], aborda o fato de nosso trabalho ser de natureza relacional, que requer necessariamente o estabelecimento de uma relação entre profissional e usuário. E então, nos questionamos: qual o limite dessa relação? Queremos nos relacionar? Ou seja, a cada afirmação, um novo questionamento. E penso que é isso que nos move, enquanto profissionais que fazem a diferença no seu cotidiano de trabalho.

A autonomia é um conceito que se coloca recorrentemente como objetivo de intervenção a ser alcançado, tanto pela Assistência Social quanto pela Terapia Ocupacional. Porém, como tal conceito se efetiva na prática, no relacional? Percebo que, facilmente entramos em contradição, enquanto profissionais, e seguimos no caminho contrário (com a melhor das intenções!). Sendo assim, se no cotidiano de trabalho não há um exercício de reflexão, seguido de um posicionamento, quase sempre, contra-hegemônico (crítico à realidade, ao senso comum e ao tradicional), facilmente reproduzimos aquilo que, na teoria, criticamos.

Em alguns momentos formativos dos quais participei, discute-se muito que as atividades (artesanais e manuais) na Assistência Social devem sempre ter um objetivo, um propósito. Para os terapeutas ocupacionais isso sempre foi imperativo, plenamente discutido na graduação do curso, inspirada em uma terapeuta ocupacional[2] que dizia que a atividade naturalmente terapêutica (ou benéfica) seria um mito. Mito este relacionado a uma visão ultrapassada de que o trabalho dignifica.  É importante considerar que ele pode também gerar adoecimentos. Assim, a execução de uma atividade e o alcance de seus objetivos depende necessariamente do recurso humano. Uma mesma atividade pode ser utilizada para propósitos totalmente opostos.

 Outra reflexão que tem se mostrado importante, é discutir sobre as formas de inserção dos trabalhadores do SUAS nos serviços. Sou concursada para o cargo de terapeuta ocupacional CRAS, contudo, a abertura de cargos específicos dessa forma é raro, senão inexistente.

Portanto, há muitos pontos que pretendo levantar neste espaço, enquanto terapeuta ocupacional e trabalhadora do SUAS. Busquei expor aqui apenas uma prévia desse desafio enorme de transpor o entendimento analítico dos referenciais teóricos rumo às estratégias de intervenção prática e técnico-operacional.

 

[1] BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Fundamentos ético-políticos e rumos teórico-metodológicos para fortalecer o Trabalho Social com Famílias na Política Nacional de Assistência Social. Brasília, 2016.

[2] NASCIMENTO, B. A. O mito da atividade terapêutica. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, v.1, n.1, p. 17-21, 1990.

*Aline Cristina de Morais – Graduada em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar (2008), Mestre em Terapia Ocupacional pelo Programa de Pós-Graduação em Terapia Ocupacional da UFSCar – PPGTO (2013). Atuou no Serviço de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto (2008 a 2011) em São Carlos/SP. Foi professora substituta no Departamento de Terapia Ocupacional da UFSCar (2013-2014) e docente adjunta do curso de Terapia Ocupacional do Centro Universitário de Araraquara – UNIARA (2013-2015). Atualmente é Terapeuta Ocupacional do CRAS de Patrocínio Paulista/SP, membro do Conselho Municipal de Assistência Social de Patrocínio Paulista/SP (atual gestão) e membro do Grupo de Estudos e Capacitação Continuada de Trabalhadores do SUAS – GECCATS.

9 comentários em “Diálogos e perspectivas possíveis da Assistência Social com/e da Terapia Ocupacional

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  1. Aline, sou estudante de terapia ocupacional da Universidade Federal da Paraíba, e procurando sobre terapia ocupacional no contexto hospitalar, achei você como referência. Por favor, entra em contato comigo pelo e-mail victoria.silva@academico.ufpb.br . Desde já, obrigada!

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  2. Aline gostei muito das suas colocações, ainda sou estudante de TO, e me interesso pela área social, meu tcc esta sendo voltado pra essa área, aqui em Teresina-PI não existe TO atuando no campo social dentro do CRAS, então meu projeto visa a implantação do profissional nesse centro, tenho encontrado dificuldade de encontrar referencial teórico que fale da atuação dentro do CRAS, gostaria de contar com sua ajuda para me tirar algumas dúvidas se for possível. Gostaria que me passasse seu email e também deixarei o meu: priscila.ho@outlook.com. Desde ja agradeço e parabéns pelo trabalho.

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  3. Iniciei minha jornada na Terapia Ocupacional em 2011, quando formado comecei a buscar experiência e campo de atuação, observo que desde então atuei como profissional e no SUAS mais precisamente na rede básica com atendimento no domicilio. Em muitos momentos deparei-me com tantas reflexões que ao longo desse período constatei cada conquista dos colegas TO’s e com grande esforça nos empenhamos nessa jornada dos fazer crítico que transporta para o campo da historia pessoal e coletiva de cada de um. Obrigado pelas palavras cara colega me trás muita alegria e satisfação.

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    1. Sou Terapeuta Ocupacional, trabalho em um Centro de Referência da Assistência Social e para mim é super desafiador o trabalho no social, e suas reflexões caiu de luvas em minhas inquietações.
      Cristiane Luz Ledo

      Curtido por 1 pessoa

      1. Cristiane, também acho muito desafiador trabalhar no social, sobretudo na Assistência Social, pois também me geram muitas inquietações. Penso que ter inquietações é um bom sinal, de que não estamos parados no tempo, e que, de um modo ou outro, estamos pensando sobre o trabalho, pois tem muita gente que não faz isso! Compartilhe sobre a sua atuação (e inquietações) conosco! Obrigada!

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        1. Olá! Comecei a trabalhar no SUAS há duas semanas… após 15 anos de SUS. Me formei em 2002. Estou iniciando numa Equipe de um CRAS e estamos avaliando o que serão minhas atividades. Alguns gestores acham que devo fazer somente oficinas do SCFV, outros acreditam que posso atender individual, conceder benefícios eventuais, ser técnica de referência no PAIF. Mas, ainda estou procurando subsídios para argumentar e tb me familiarizar… Gostaria de saber mais sobre as funções específicas que faz no CRAS?

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